Entre o ofício e a missão, entre a urgência do prazo e o silêncio da estratégia, a advocacia caminha. Mas não deve tropeçar. Tropeça quem repete fórmulas. Quem acha que tudo sabe e confunde experiência com acomodação. E, sobretudo, tropeça quem pensa que a qualificação é uma etapa vencida — e não uma postura vital.
A advocacia, para além de profissão, é travessia. Exige escuta, linguagem e presença — mas exige também algo mais difícil de mensurar: lucidez. Na advocacia, lucidez é a capacidade de interpretar o cenário para além dos autos. É compreender que o processo tem códigos visíveis e invisíveis — e que nestes, como na base do iceberg, é que se finca o destino da causa.
O que está em jogo, afinal, não é só o domínio técnico. É a compreensão de que a técnica sem leitura de contexto vira ritual vazio. E que, sem leitura de contexto, até o acerto técnico pode significar derrota.
Por isso, na Escola Superior de Advocacia de Pernambuco, órgão educacional da OAB-PE, não nos contentamos em oferecer cursos. Nos movemos para formar profissionais que saibam pensar a advocacia — em toda a sua complexidade, dignidade e urgência.
Pensar a advocacia é enxergar perguntas que não devem ser feitas
Porque pensar a advocacia é enxergar, por exemplo, perguntas que não devem ser feitas — mesmo que tecnicamente corretas. É reconhecer momentos em que o silêncio protege mais do que a oratória. E que, no exercício do múnus, há decisões que não cabem no manual: pedem sensibilidade, estratégia e prudência.
Advogar é, sim, saber. Mas é também saber quando saber não basta. E, às vezes, saber quando não dizer é o que mantém a causa viva.
A ESA-PE, portanto, se propõe a formar consciências jurídicas capazes de resistir ao automatismo e às adversidades. E resistir exige preparo. Não um preparo protocolar, mas uma formação contínua e, sobretudo, pensante.
Essa diretriz já se converte em prática: a ESA-PE integra, ao lado da formação dogmática, atualizações em tecnologia e competências de gestão — dos Cursos Práticos de IA através do ChatGPT para a Advocacia a módulos de marketing jurídico, precificação de serviços e organização de escritório. Sem descuidar da dimensão humanística, e em cumprimento ao seu dever regimental e vocação natural, promove projetos como o inovador e já exitoso ESArte – Festival de Arte e Cultura da Advocacia Pernambucana, que amplia repertório e sensibilidade. O objetivo é claro: dotar advogados e advogadas de instrumentos para alavancar a carreira com técnica, eficiência e cultura.
Não basta exercer o ofício. É preciso reafirmar um compromisso permanente: a advocacia que não estuda, enfraquece; a que repete, entorpece; a que se acomoda, desaparece.
Defendemos, pois, uma advocacia que se forme e se reforme. Que estude não para acumular certificados, mas para sustentar sua altivez. E que pense, porque só pensa quem respeita a profissão. Que resista — com técnica, ética e inteligência.
É exatamente essa advocacia que a ESA-PE promove, cultiva e celebra.
Por Carlos Eduardo Ramos Barros*
*Advogado Criminalista e Diretor Geral da ESA/OAB-PE.

Revista Paradigma Jurídico Ed. IV pág. 36 – Agosto 2025.





