*A advogada Maria Eduarda Medeiros foi-se cedo demais num inesperado acidente náutico. Essa é nossa homenagem à sua vida.
Maria Eduarda não combinava com silêncio. Pelo contrário, era vida em essência, em ebulição, intensidade, barulho, risadas, falas altas, passos e movimentos rápidos.
Dia desses ouvi de Pri Campelo, que trabalhou conosco, uma história contada por Giu Pedulla. A história era de que “Duda”, apelido carinhoso que recebeu da nossa equipe, chegava ao escritório mesmo antes de nele adentrar fisicamente. De fato, se sabia disso pelo barulho dos seus inseparáveis tamancos no corredor do andar. Um barulho que faz falta.
Eu a chamava de Maria, nome que tenho muita afeição, talvez porque minha Mãe e Filha tenham esse homônimo.
Ela chegou ao nosso convívio profissional há oito anos. Num primeiro momento para assumir a pasta de um cliente grande e, como era advinda de um escritório de contencioso de massa, fez sucesso. Organizou os procedimentos, fez equipe, ganhou experiência e admiração de todos. Mérito próprio.
Ainda profissionalmente, era justa, combativa, atenciosa e paciente com os clientes. Por vezes éramos surpreendidos com decisões judiciais injustas e isso nela despertava imensa indignação a ponto de descer dos tamancos e proferir palavras impróprias somente ditas em situações como tais. De nada adiantava pedir-lhe calma naquele momento pois ocorria exatamente o inverso, ela ficava ainda mais indignada, com o rosto vermelho de raiva. Situação aprendida ao longo de nossa barulhenta e amistosa convivência.
“Como vou viver sem Maria Eduarda?”
Depois de seu definitivo silêncio, recebi uma ligação de uma de nossas várias clientes. Maria a tratava como amiga, psicóloga, gestora de carreira e babá dos filhos. Na ligação, a cliente disse: “Estou sem chão! como vou viver sem Maria Eduarda?”. De fato, prova de sua conduta impecável e humana com os clientes.
A convivência diária redundou em confiança mútua também no âmbito pessoal. Nesse sentido, lembro que conheci Viviane Medeiros (Vivi), sua prima, irmã, amiga e tudo mais que não cabe nesse texto, quando me pediu conselhos jurídicos de um tema que a esta dizia respeito. Como resultado, minha família e eu nos tornamos amigos também de Vivi. Daí por diante, Tássia, Dona Graça – Mãe de Maria, Tia Mãe, Bernardo – seu irmão e de quem ela tinha um orgulho infinito e Bruna sua esposa, esperando mantê-los como amigos para todo o sempre.
Ela também tinha muito orgulho, ciúme e zelo da amizade fraterna que nutria por Irlane, Carol, as Gêmeas Malu e Cecília. Além disso, a amizade se estendia a tantas outras, às quais peço desculpas por não citá-las aqui.
No entanto, a notícia do seu desaparecimento, os dias de angústia e depois sua passagem, continua muito difícil para todos. Perder alguém como Maria no auge de sua vida pessoal e profissional soa cruel e injusto. Como imaginar que estivemos trabalhando no escritório na quinta-feira que antecedeu o fato? Logo depois, nos despedimos desejando um feliz São João e, então, tudo simplesmente e inexoravelmente acaba. Inimaginável!
Me sinto honrando por ter podido acompanhá-la em seus últimos momentos e agradeço muito à sua família por isso.
Pois é Maria Eduarda, Maria, Edu, Dude, Duda, o seu silêncio muito nos incomoda.
O silêncio que incomoda: uma homenagem a Maria Eduarda Medeiros
Por Renato Canuto.

Uma homenagem do Grupo Paradigma e Renato Canuto a advogada Maria Eduarda Medeiros. Revista Paradigma Jurídico Ed. IV págs. 2/3 – Agosto 2025.





