A síndrome de burnout, caracterizada por exaustão extrema, despersonalização e baixa realização profissional, tem atingido de maneira alarmante as mulheres, em especial as advogadas. De fato, o ambiente jurídico, reconhecidamente exigente e competitivo, impõe uma carga mental intensa — somada, muitas vezes, às responsabilidades domésticas e familiares, que recaem de forma desproporcional sobre as mulheres.
A chamada “dupla jornada”, que compreende o expediente profissional seguido por atividades domésticas, já é desgastante por si só. Porém, muitas advogadas enfrentam a “tripla jornada”, incluindo o cuidado com filhos, idosos ou familiares enfermos. Esse acúmulo de funções, geralmente naturalizado e invisibilizado, cobra um alto preço emocional e físico, levando à sensação de fracasso, isolamento e exaustão crônica.
Implicações Jurídicas
Nesse sentido, as implicações jurídicas desse cenário não são desprezíveis. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), especialmente após a Reforma Trabalhista, ainda carece de dispositivos sensíveis às especificidades das mulheres profissionais, o que, por conseguinte, fragiliza a proteção diante de quadros de burnout. Embora o artigo 6º da Constituição Federal assegure a saúde como direito social, a ausência de políticas voltadas à prevenção da saúde mental feminina no ambiente profissional, pode configurar omissão e gerar responsabilidade civil por danos psíquicos.
Além disso, o reconhecimento do burnout como doença ocupacional, conforme a CID-11 da OMS e a jurisprudência recente, impõe deveres ao empregador — e, no caso da advocacia autônoma, exige das instituições de classe (OAB, CAAs, ESA) o compromisso com a criação de redes de acolhimento e medidas efetivas de cuidado. Promover ambientes profissionais saudáveis não é apenas uma escolha ética, mas uma exigência jurídica em consonância com os princípios da dignidade da pessoa humana e da valorização do trabalho.
Em um cenário de produtividade tóxica, onde demonstrar cansaço é interpretado como fraqueza, é urgente romper com o silêncio. Cuidar da saúde mental é um ato de coragem. Procurar ajuda psicológica, compartilhar sobrecargas e estabelecer limites são atitudes fundamentais para preservar o bem-estar. Afinal, não é possível sustentar uma carreira sólida em ruínas emocionais. Peça ajuda. Falar é o primeiro passo para (re)construir a própria força.
Burnout e a Jornada Invisível das Advogadas
Por Márcia Cavalcanti de Almeida*
*Atua nas áreas do Direito Civil, Previdenciário e do Direito Trabalhista e Público, com ênfase nas Relações de Trabalho. Pós-graduada em Direito Processual Civil, em Direito Previdenciário e em Direito Digital. Membro da Comissão de Defesa e Assistência as Prerrogativas dos Advogados da OAB-PE. Presta Assessoria Jurídica ao Sindicato dos Servidores Municipais de Custódia, Pernambuco, Ex-Presidente da OAB Subseccional Pesqueira (2022 – 2024). Sócia Fundadora do Escritório Almeida Advocacia desde 2012.

Revista Paradigma Jurídico Ed. IV pág. 49 – Agosto 2025.





