Em uma manhã de inverno em Bucareste, os executivos da Stefanini caminhavam pelas ruas da capital romena. Ali, eles observavam uma transformação que poucos brasileiros ainda conseguiam enxergar. Entre os edifícios históricos que testemunharam impérios e revoluções, uma nova história estava sendo escrita. Uma história que conectaria diretamente o coração da América do Sul ao pulso da Europa.
A decisão da gigante brasileira de TI não havia sido impulsiva. De fato, enquanto outras empresas ainda viam a Romênia como um mercado distante no Leste Europeu, a Stefanini reconheceu algo que mudaria completamente o jogo. Este país estava se transformando na chave de ouro para abrir todas as portas do continente.
A Chave Estratégica para a Europa
A transformação começou silenciosamente. Longe dos holofotes das grandes capitais europeias, a Romênia construía metodicamente sua posição estratégica. Posteriormente, quando as últimas barreiras do Espaço Schengen finalmente caíram, o país não apenas ganhou livre acesso. Ele se tornou um corredor direto para 450 milhões de consumidores europeus.
“Estamos testemunhando um ponto de inflexão nas relações bilaterais”, revela Rodrigo Maia Galvão, cônsul honorário da Romênia, observando uma mudança histórica. “A percepção está mudando de um simples mercado no Leste Europeu para um parceiro estratégico fundamental.”
Como resultado, a meta de elevar o comércio bilateral para 1 bilhão de dólares anuais não era mais apenas uma ambição. Estava se tornando uma realidade inevitável.
O Silicon Valley do Leste Europeu
Em uma reviravolta que surpreendeu até os analistas mais otimistas, a Romênia havia se tornado o “Silicon Valley do Leste Europeu”. O fenômeno não aconteceu da noite para o dia. Contudo, quando a UiPath, uma empresa romena de automação de processos robóticos, alcançou o status de unicórnio, o mundo finalmente prestou atenção.
A VTEX foi uma das primeiras brasileiras a compreender o potencial. Ao estabelecer seu hub europeu em Bucareste, a plataforma de comércio digital descobriu algo surpreendente. Os desenvolvedores romenos não apenas dominavam as tecnologias mais avançadas, mas também pensavam de forma similar aos empreendedores brasileiros.
“Encontramos uma mentalidade de inovação que se assemelha muito à nossa cultura empreendedora”, explica o cônsul honorário Rodrigo Maia Galvão. “Não se trata apenas de reduzir custos, mas de gerar valor e desenvolver soluções complexas para todo o mercado europeu.”
Novas Fronteiras: Energia e Indústria
No entanto, a história não terminava nos escritórios de tecnologia. Nos campos abertos que se estendem até o Mar Negro, uma revolução energética estava ganhando forma. A Romênia havia traçado metas audaciosas para energia solar e eólica. Assim, criou oportunidades perfeitas para um país que dominava as energias renováveis como o Brasil.
Além disso, nas fábricas onde nasciam os carros Dacia e os componentes que chegavam aos portos brasileiros, uma parceria industrial equilibrada tomava forma. O Brasil importava a expertise romena em maquinário e equipamentos, enquanto exportava conhecimento em setores onde liderava globalmente.
Navegando o Terreno: Dicas Fiscais e Culturais
Contudo, conquistar este novo território exigia mais do que entusiasmo. O governo romeno acenava com incentivos tentadores, como isenção de impostos sobre lucros reinvestidos em tecnologia e deduções generosas para pesquisa e desenvolvimento. Mas o caminho tinha suas armadilhas.
“Aconselhamos os empresários a estarem preparados para uma certa volatilidade na legislação fiscal”, alerta Rodrigo Maia Galvão, compartilhando a sabedoria adquirida em anos de experiência. “A chave é ter bons parceiros locais e uma assessoria jurídica competente desde o início.”
As nuances culturais também guardam surpresas. Por exemplo, os romenos constroem negócios sobre relacionamentos pessoais sólidos. A pontualidade é sagrada e a formalidade inicial é esperada. Compreender esses códigos não escritos pode significar a diferença entre o sucesso e o fracasso.
Conclusão: A Ponte Dourada para o Futuro
Hoje, quando os executivos brasileiros olham para o mapa da Europa, a Romênia não é mais um ponto distante e desconhecido. Pelo contrário, é uma ponte dourada que conecta ambições sul-americanas à realidade europeia. Uma plataforma onde talento, inovação e oportunidade convergem para criar algo maior que a soma de suas partes.
A conexão entre os Cárpatos e o Cerrado está sendo escrita em tempo real, página por página, negócio por negócio. Por fim, para as empresas brasileiras com visão de futuro, a pergunta não é mais se devem considerar a Romênia. A questão é quando começarão a construir sua própria história nesta terra de oportunidades inesperadas.

Revista Paradigma Jurídico Ed. IV págs. 60/61 – Agosto 2025.