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Carlos Sá: Uma Jornada de Fé e Justiça

Da Decepção à Chama Reacesa

Brasília pode ser um lugar de imenso poder ou de profunda decepção. Para Carlos Sá, naquele dia, ela se apresentou com a segunda face. Ele retornava a Recife cabisbaixo, com o peso de uma derrota no Superior Tribunal de Justiça (STJ), sobre os ombros. O caso, um desafio marcante em sua carreira na advocacia criminal, era de um cliente preso em Igarassu, PE. A defesa parecia sólida. Além disso, o próprio Ministério Público Federal, através de um parecer, havia concordado com a injustiça da prisão. Apesar disso, a decisão unânime dos ministros foi pela negação do habeas corpus. O caminho, enfim, parecia exaurido.

Contudo, no presídio, o encontro que poderia ser o ponto final de uma jornada se tornou o reacender de uma chama. “Doutor Carlos, e agora? O que a gente pode fazer?”, perguntou o cliente. A resposta era uma aposta de fé contra a probabilidade: “Um habeas corpus para o Supremo Tribunal Federal (STF)”. A reação do homem, privado de liberdade, mas não de esperança, foi imediata. “Pode fazer, eu confio no seu trabalho”.

A Filosofia na Advocacia Criminal: Não Recuar um Milímetro

Aquele momento, recorda Sá, foi emblemático. De fato, “Aquele cliente que realmente renasceu o meu vigor, ele reacendeu a chama”. A experiência se tornaria um pilar de sua filosofia profissional na advocacia criminal. Um lembrete indelével de que certas batalhas são travadas para além do resultado imediato. “Eu aprendi que o advogado não tem direito de baixar a cabeça”, afirma. “Ele não tem o direito de ficar parado, portanto, ele não tem direito de recuar sequer um milímetro”.

Origens da Vocação na Advocacia Criminal e a Mentoria Decisiva

A semente de sua vocação brotou cedo, em uma aversão quase física à injustiça presenciada nos tempos de colégio. Contudo, a decisão pela advocacia criminal se cristalizou no segundo ano da faculdade de Direito, ao conhecer Fernando Alves. Ele era um dos grandes criminalistas de Pernambuco e pai de sua então esposa. Ao lado do ex-sogro, que se tornou seu grande mentor, Sá percorreu o Brasil por mais de uma década. “Foi uma escola para mim”, relembra. “Pude aprender com um profissional de ponta que exercia realmente a advocacia com bastante excelência”.

A Advocacia Criminal como Trabalho Artesanal

Essa formação, como resultado, criou uma percepção aguçada sobre a natureza do seu trabalho. “A advocacia criminal, ela é por si só uma advocacia que não deixa de ser artesanal”, explica. Ele rejeita a lógica da produção em massa. “Não é uma peça padrão para todas as causas. Quando a gente vai patrocinar uma causa criminal, a gente tem que botar uma lupa naquele processo. O cuidado, em outras palavras, é cirúrgico”.

Honestidade e Confiança: A Relação com o Cliente

Esse DNA de seriedade e honradez, como ele descreve, é a assinatura de seu escritório. A relação com o cliente é construída sobre uma confiança crua, desprovida de promessas fáceis. “Eu nunca vou vender ilusão para ele. Eu nunca prometi aquele que tá preso que ele vai ser solto. A única coisa que o advogado deve prometer é trabalho. Trabalho árduo, trabalho com responsabilidade”.

Lidando com a Pressão: A Serenidade em Casos de Grande Repercussão

Essa postura se torna ainda mais vital em casos de grande repercussão, onde a condenação midiática precede qualquer análise jurídica. Por isso, Sá lida com a pressão com uma tranquilidade calculada, sustentada por um princípio basilar: julgar o que está dentro do processo, não fora dele. “A gente tem que ter muita seriedade e a gente tem que realmente se imaginar no lugar daquele que tá sendo acusado”. A maior satisfação, confessa, vem justamente desses cenários. “Quando todo mundo tá pisando, tá batendo, e quando a gente consegue demonstrar que nada daquilo que foi noticiado e apontado aconteceu daquela maneira… isso aí dá uma satisfação imensa”.

A Reviravolta no STF: Uma Lição de Persistência

De volta a Brasília, o habeas corpus que parecia uma última tentativa alcançou a mesa do Ministro Marco Aurélio, no STF. Desta vez, o cenário era ainda mais adverso, pois o parecer do Ministério Público era contrário à soltura. Ainda assim, Sá fez a sustentação oral. O resultado: a concessão da ordem. A vitória não foi apenas um êxito profissional; foi, acima de tudo, a confirmação de uma lição. “Depois de esgotadas todas as instâncias, quando não couber mais recurso, quando você tá tranquilo, independentemente do resultado, se fez de tudo, do início ao fim, é isso que importa”.

A Resiliência Forjada na Dor e na Fé

Essa resiliência é alimentada por uma fé que ele descreve como inabalável. Uma convicção que se tornou ainda mais profunda após a experiência mais dolorosa de sua vida: a perda de sua mãe, há poucos meses, após uma longa luta contra o câncer. Carlos esteve ao lado dela até o fim, em uma jornada de cuidado que redefiniu suas prioridades e seu entendimento sobre o dever.

“Fiquei com ela domingo a domingo, mais de um ano. E aprendi muito, muito mesmo”, conta. “A gente tá aqui hoje, mas é uma coisa muito momentânea, é só uma velinha que daqui a pouco você apaga”. A dor, ele admite, foi imensa. Todavia, o aprendizado foi transformador, expandindo sua capacidade de se colocar no lugar do outro: a mesma habilidade que julga essencial para defender alguém.

Legado, Família e o Lema para o Futuro

Ele carrega essa perspectiva para todas as áreas da vida. Desde a criação das filhas Maria Fernanda — que hoje trabalha com ele —, Maria Luiza, e a pequena Paola, à sua relação com a esposa, Priscila. A base, segundo ele, é uma frase que rege seus atos: “Deus faz tudo por você, ele só não faz a sua parte”.

Hoje, enquanto expande sua atuação para o Paraná e se prepara para retornar à sala de aula, Carlos Sá olha para trás sem o peso dos arrependimentos, mas com a sabedoria das cicatrizes. Se pudesse encontrar o jovem Carlos, no início da faculdade, o conselho seria simples. “Relaxa, respira, acredita mais em Deus. Continua fazendo tudo que tu tás fazendo com dedicação, com afinco”, diria a ele. Por fim, talvez acrescentasse o seu lema mais recente, uma síntese de fé e ação que aprendeu nos tribunais e na vida: “Primeiro a gente pisa, depois Deus bota o chão”.

Revista Paradigma Expressão Ed. IV pág. 30/33 – Agosto 2025.

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