Saúde

Eduardo Jorge – Abre Paradigma Expressão

O termo vacina é proveniente do latim vaccinus, que significa “derivado da vaca”. É porque foi através das vacas que o médico inglês Edward Jenner criou e batizou aquilo que seria uma das maiores conquistas da medicina. Em 1796, quando a varíola aterrorizava a humanidade, o médico percebeu que aqueles que lidavam com vacas infectadas com uma variação inofensiva da doença, varíola bovina, ficavam imunes à varíola humana. Assim nasceu a primeira vacina, responsável por erradicar essa doença que assombrou a humanidade por mais de 3.000 anos e que matou cerca de 300 milhões de pessoas. 

Quem compartilhou essa história foi Eduardo Jorge da Fonseca Lima (56), médico que mergulha de cabeça em tudo que faz. Escolheu a pediatria ainda muito novo, aos 10 anos de idade e demonstra um fascínio perceptível a qualquer um que converse com ele sobre o tema vacinação. Docente, pesquisador, empreendedor e figura atuante nas organizações institucionais da sua categoria, começou a atuar na área em 1987. Construiu sua carreira no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), lugar onde atuou em vários setores ao longo dos anos e onde hoje coordena a pós-graduação lato sensu (residência e estágios). Participou da formação de grande parte dos pediatras pernambucanos nas três últimas décadas e expõe que ministrar aulas é uma parte tão indispensável da sua vida que não se vê sem ser professor. Além de ter sido por muitos anos presidente da Comissão Estadual de Residência Médica, ensina na Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) e na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Também é coordenador da região Nordeste na Sociedade Brasileira de Pediatria e conselheiro do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (CREMEPE).

Seu lado empreendedor revela-se na clínica de vacinação Vaccine, uma das maiores do Brasil. O pesquisador acadêmico, que cuida da parte técnica e administrativa da empresa, conta com o apoio de quatro sócios no empreendimento. O neonatologista José Henrique Moura; o pediatra Carlos Henrique Bacelar; o pneumologista Antonio Aguiar Filho e o cardiologista Luis Carlos Santos, juntamente com Eduardo Jorge, inauguraram a Vaccine em 1996 com uma atitude empresarial ousada, ao abrir três unidades simultaneamente em Olinda, Boa Viagem e no Espinheiro.  

Vice-presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco, relata que achou na vacina uma maneira de trabalhar com o que ama. O motivo, segundo suas palavras, é que “de todas as ações de saúde, com exceção do saneamento básico, a que tem a melhor relação de custo/benefício é a vacina. Estima-se que a cada dólar investido em vacinação, a sociedade economiza 20; além de prevenir doenças graves”. Lembra que na época em que fazia residência médica, quando lidava com um surto fatal de meningite, percebeu o impacto da vacinação quando, após a sua implementação, os números de mortes e internamentos reduziram drasticamente. 

Na pandemia, Eduardo Jorge, que é considerado um dos principais especialistas em âmbito nacional no tema de imunização, tem se dedicado diariamente ao estudo do coronavírus. Inclusive, tem atuado efetivamente nos comitês de imunização contra o coronavírus de Recife e de Pernambuco. Confira um pouco da nossa conversa com o especialista.

As vacinas são vítimas do seu próprio sucesso

“A geração de quem tem seus 30 anos de idade não viu os irmãos serem internados com meningite, não viu os primos adoecerem gravemente com tétano, não conheceu ninguém com pólio na sala de aula. Então isso fez com que essas pessoas achassem que essas doenças não existissem, que elas estão controladas. E tem outra, acham que a dor da picadinha no filho é algo extraordinário, que ele vai sofrer com aquela dor, vai ter febre, e que isso é mais importante do que a proteção contra a doença. É por isso que dizemos que as vacinas são vítimas do seu próprio sucesso. Uma geração que não viu casos de doenças transmissíveis e ficou com a falsa impressão de que as doenças estavam controladas. Com isso, a preocupação em proteger os filhos com a vacina diminuiu.”

As taxas de cobertura de vacinação nunca estiveram tão baixas no Brasil

“Embora o antivacinismo não seja tão forte no Brasil como é na Itália ou na Holanda, o que nos preocupa é que nos últimos cinco anos, especialmente nos últimos três anos, as taxas de cobertura de vacinação nunca estiveram tão baixas no Brasil. As fake news sobre vacinas já estão presentes há algum tempo e de forma organizada. Eu diria que é um crime organizado, com objetivos específicos ao desacreditar as vacinas. Teve um relato de um médico inglês que inventou um trabalho maliciosamente manipulado que relacionou a vacina de sarampo, caxumba e rubéola com o autismo e isso causou sequelas que até hoje as pessoas quando têm um filho com autismo, acham que pode ter sido da vacina. Mesmo que esse médico já tenha sido desmascarado e cassado no seu país, o estrago já havia sido feito.”

A única expectativa de defesa nessa pandemia é com a vacina

“As pessoas questionam muito como é que em tão pouco tempo se fez uma vacina, que tem um tempo de desenvolvimento médio de 10 a 20 anos. A vacina de HPV, por exemplo, levou 20 anos para ficar pronta. Mas diversos fatores permitiram avançar esse tempo com as vacinas contra o coronavírus. As vacinas de vetor viral, como a Astrazeneca, já tinham sido usadas para MERS e para SARS-CoV-1. Então já existia uma plataforma testada e quando veio o SARS-CoV-2, foi só adaptar para ele. Logicamente nós estamos falando de meses. A coisa é tão intensa, em questão de mortalidade no Brasil e no mundo, que a gente pensa que já estamos há anos estudando, falando e pesquisando a vacina do coronavírus. A primeira vacina foi aplicada em dezembro de 2020, então estamos com pouco tempo de uso da vacina, mas experiências em Israel vem demonstrando um impacto enorme no controle da doença. O índice de contaminados nos Estados Unidos caiu mais de 50%. Os resultados do Uruguai e do Chile também demonstram a redução de internamentos. Então isso nos faz ter a certeza que estamos no caminho certo e só com as vacinas a gente vai conseguir acabar com a pandemia.”

A máscara veio para ficar

“Eu acho que a máscara veio para ficar, ao menos nos próximos dois anos. Como os chineses e os japoneses que usam máscara a vida toda e se acostumaram. Existem coisas que achamos que é uma besteira mas que vieram para ficar. Por exemplo, lavar as mãos várias vezes ao dia é fundamental, previne muita coisa. E só com a pandemia é que estamos nos lembrando disso.”

A melhor vacina é aquela que entrar no seu braço

“Eu sempre falo uma frase de Ariano Suassuna no final das minhas aulas que diz que ‘o otimista é um tolo; o pessimista é um chato; eu gosto mesmo é de ser um realista esperançoso’. Independente da plataforma – seja Coronavac, Pfizer ou Astrazeneca -, cada uma tem suas vantagens e desvantagens. Não tem nada no mundo que seja 100% ótimo ou 100% ruim. Porém, não posso omitir que as vacinas de RNA como a da Pfizer e da Moderna mostram-se ser as vacinas com melhor eficácia. Mas a vacina da Coronavac propõe reduzir casos graves e reduzir internamentos hospitalares e para isso ela funciona muito bem. Então a melhor vacina é aquela que for possível no seu braço. Não esqueça de dar seu braço!”

O Conecta Recife é referência para o Brasil inteiro

“No meio da pandemia eu fui convidado para fazer parte dos comitês de imunização contra o coronavírus de Recife e de Pernambuco. O prefeito João Campos, antes de assumir a prefeitura, ainda em dezembro, formou esse comitê. Ele já estava preocupado em como Recife iria fazer para imunizar sua população. Então a gente tem esse aplicativo Conecta Recife que é uma referência para o Brasil inteiro. Observem que em São Paulo e Rio de Janeiro vemos aquelas filas de pessoas se acumulando, pessoas chegando de madrugada para se vacinar. E aqui a gente conseguiu organizar essa campanha de forma muito tranquila, nós não temos filas. A pessoa marca pelo aplicativo, sabe o dia, a hora e o local. 

70% da população pernambucana estará vacinada até novembro

“Tenho plena convicção de que quando alcançarmos 70% da população vacinada, em novembro de 2021, viveremos em um outro momento de controle da pandemia, como os países que conseguiram estão vivendo hoje. Mas o problema é que nós não temos vacinas suficientes. Lamento que o Brasil não fez seu dever de casa quando em setembro de 2020 foi oferecida a vacina da Pfizer e não nos organizamos previamente para ter um quantitativo de vacina adequado.”

Erros e acertos

“Em março de 2020 havia o desconhecimento de como seria o acometimento pediátrico, de como as crianças se comportariam. Na época, eu dei uma declaração dizendo que a retirada das crianças da escola foi uma decisão acertada. Porém, hoje temos convicção que as crianças são poupadas dos quadros graves. Não é que elas deixam de se contaminar, elas podem se contaminar e a imensa maioria vai fazer quadro assintomático e quadro leve. Em agosto, setembro e outubro de 2020 nós estávamos em uma pandemia controlada no Brasil, e em Recife as crianças estavam em casa. A falta da escola permite uma maior exposição ao tempo de tela, que é um mal que as pessoas não imaginam o tamanho. Além disso, a falta de convívio social e o estresse de estar trancado em casa geram consequências gravíssimas para o aprendizado dessa geração que vai persistir por muitos e muitos anos. O malefício foi maior para os alunos de escola pública, onde a criança não tinha acesso a internet, não tinha merenda escolar, não tinha a segurança que a escola traz. O número de abusos sexuais que acontecem em casa aumentou de forma assustadora nesse período. Então o malefício que foi a não ida para a escola naquela época que deveria ir, foi um equívoco. Eu mesmo, após essa declaração que dei em março, mudei de opinião. A volta às aulas precisa ter cautela, mas se for com a máscara adequada – e a gente ressalta a importância da máscara -, com distanciamento e se a escola seguir as medidas adequadas. Entre risco e benefício, eu vejo os benefícios das voltas às aulas, mesmo nessa pandemia, porque é uma geração que foi extremamente prejudicada.”

Manu Asfora
Publicitária com especialidade em conectar marcas a pessoas, é a responsável pelo sucesso editorial que confere a Paradigma Jurídico o título de líder do setor editorial jurídico impresso em Pernambuco.

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