Contar histórias é uma característica inerente dos seres humanos. É uma importante ferramenta de transmissão de elementos culturais e uma maneira efetiva de passar regras e valores éticos para gerações futuras; que tem origem antes mesmo da existência da linguagem escrita, através de mímicas ou gestos e representações visuais, a exemplo das pinturas rupestres.
Com o desenvolvimento da humanidade, esse formato de comunicação evoluiu e no século 19 um gênero mais específico se estabeleceu. As histórias em quadrinhos (HQs) foram difundidas com a expansão da função da imprensa no mundo, visto que foi através dos jornais que as primeiras HQs foram publicadas. Foi só por volta da década de 1930 que as tirinhas começaram a ser publicadas em revistas, como as conhecemos hoje. A chamada “Era de Ouro das histórias em quadrinhos” foi o período que o conceito dos super-heróis como personificação do bem se popularizou. Neste ramo, a editora americana DC Comics foi uma das precursoras do gênero que mostra seres humanos aparentemente comuns mas que são capazes de proezas inacreditáveis. Um de seus maiores sucessos foi a Liga da Justiça, uma equipe de super-heróis que teve seu debute em 1960 com a edição histórica “The Brave and The Bold #28”. Desde então, o time – que transcendeu o mundo das HQs, invadindo as telas de televisão – tem sofrido diversas alterações no elenco, muitas vezes acompanhando os períodos históricos de transformação e inclusão social, sendo o empoderamento feminino um dos temas mais evidentes.
O pioneirismo em despertar questões relativas à representatividade em suas páginas e, em sequência, nas adaptações para televisão e cinema, serviu de inspiração para trazer essa comparação entre as super-heroínas que fazem parte da Liga da Justiça no mundo fictício da DC e aquelas que realmente fazem a Justiça valer no mundo real. Um time de advogadas composto por mulheres que fazem a diferença, que são destaques em suas atuações e exemplos de superação em suas batalhas do dia a dia, sempre buscando novos desafios com um só objetivo: a defesa da verdade.
Assim como as super-heroínas da Liga da Justiça lutam contra o mal; as advogadas lutam por Justiça;
Assim como as super-heroínas da Liga da Justiça usam a Sala da Justiça como sede de encontros para planejar suas batalhas; as advogadas usam seus escritórios para atender seus clientes e planejar suas estratégias de defesa;
Assim como as super-heroínas da Liga da Justiça, as advogadas atuam como linha de defesa contra ameaças impossíveis de serem enfrentadas por só uma pessoa;
Assim como as personagens da Liga da Justiça, as advogadas são super-heroínas.
Ingrid Zanella é a icônica Mulher Maravilha, que foi uma das fundadoras da Liga da Justiça. A princesa das Amazonas é uma das mais poderosas defensoras da paz, justiça e igualdade entre homens e mulheres.
MA – Quais ações a OAB-PE tem tomado em relação às mulheres advogadas?
Ingrid Zanella – A OAB-PE, através da sua Comissão da Mulher Advogada, tem tomado uma série de ações, inclusive o reconhecimento e a necessidade de existirem pelo menos 30% de mulheres em todos os eventos promovidos. Isso é importante porque recentemente foi votado no Conselho Nacional que isso será uma norma para todas as seccionais e a OAB-PE já tinha implantado isso desde o início da nossa gestão. A gente acredita que através de uma igualdade de participação,a mulher vai poder cada vez mais ratificar sua presença no mercado de trabalho. Fora isso, também temos desenvolvido eventos tratando de questões como assédio, discriminação, preconceito, feminicídio e violência; promovendo cada vez mais uma educação do respeito e da igualdade. Essa questão é bom ressaltar que não é uma questão apenas de mulheres. É uma questão da sociedade. É uma pauta coletiva, precisamos trabalhar juntos e a OAB-PE está atenta.
Simony Braga é a Dra. Luz, que é capaz de criar uma aura em torno dela e disparar raios de luz. Todos os poderes da personagem são baseados em luz.
MA – Como é o relacionamento da mulher com o ambiente de trabalho nos dias de hoje?
Simony Braga – O papel da mulher no ambiente de trabalho é fundamental. A gente tem visto índices apontando a mulher buscando cada vez mais qualificação, maior representatividade nas universidades e instituições, inclusive em cargos estratégicos de liderança. E isso tem sido um elemento indutor e motivador para que outras venham a buscar este espaço no ambiente de trabalho. É fundamental que esse trabalho de conscientização e indução continue. Os homens precisam entender que essa união de homens e mulheres em um ambiente de trabalho é fundamental e são características complementares. Então a gente compreende que o mercado começa a entender de uma forma mais conscientizada a importância de inserir a mulher no mercado de trabalho. E a mulher começa a entender que tem total empoderamento para isso, que está preparada, busca mais qualificação e tem se destacado. Não é à toa que existem grandes líderes mulheres se destacando, com exemplos nacionais e internacionais a serem citados e isso serve para estimular aquelas que estão buscando seu espaço no mercado. É fundamental que a gente esteja atento às condutas discriminatórias, não permitir enquanto mulher que elas aconteçam e sempre buscar caminhos de forma suave, delicada e leve para que isso seja resolvido da melhor forma possível.
Mary Elbe Queiroz é a Lady Flash. Como guardiã da Força de Velocidade, Lady Flash tem muitas adaptações mágicas para poderes de super velocidade.
MA – Quais os desafios da advocacia feminina no nosso estado e como podemos vencê-los?
Mary Elbe Queiroz – A advocacia tributária, que é a minha área, é dominada pelo sexo masculino. Entretanto, nos últimos tempos tem aparecido muitas mulheres. O desafio é sermos cada vez mais competentes, determinadas, termos foco e conseguir com nossa sensibilidade e leveza feminina conquistar a clientela e defender cada vez mais as nossas causas.
Caroline Rosendo é a Lanterna Verde. Tem em seu anel um “computador de bordo”, informando tudo que precisa saber através de Inteligência Artificial.
MA – Porque é importante que as mulheres se candidatem a cargos públicos?
Caroline Rosendo – Na verdade, essa questão da equidade de gênero precisa ter uma visibilidade maior, não somente nos cargos públicos, mas também nos cargos políticos. Eu acho que as mulheres precisam participar primeiro para dar voz e mostrar nossa competência. A gente já tem tão pouco espaço e oportunidade de mostrar nosso trabalho e nossa competência de fato. Até pouco tempo atrás, por sinal, a gente não tinha espaço para trabalhar, não tinha direito de voto, etc. Então eu acho que as mulheres precisam sim participar mais efetivamente da gestão pública, em questões de políticas públicas voltadas para as mulheres, pela questão da equidade de gênero e este equilíbrio que é tão importante para nós.
Fabiana Leite é a Supergirl. Prima do Superman, é dotada de força extraordinária, super velocidade, visão de raio-X e capacidade de voar.
MA – Qual o papel da Comissão da Mulher Advogada (CMA)?
Fabiana Leite – A comissão atua como braço direito da OAB em favor das prerrogativas das mulheres advogadas e das mulheres em geral. A CMA também tem como objetivo promover a elaboração de propostas que apoiem a mulher no exercício da advocacia, construir e implementar pauta de apoio à mulher na sociedade, tendo como foco: promover a equidade de gênero e a participação de mais mulheres nos espaços de poder, promover apoio e ações de combate à violência contra a mulher, à discriminação, ao feminicídio, tudo em conjunto com as redes de apoio existentes em nosso estado. A CMA tem uma atuação de grande destaque na luta em prol dos direitos das mulheres, mulheres estas em todas as especificidades (negras, brancas, com deficiência, trans, lésbicas, indígenas, quilombolas, etc). É nossa bandeira trabalhar pela valorização da mulher advogada, lutar pela eliminação das variadas formas de discriminação e contra a desigualdade salarial entre homens e mulheres. É fundamental unirmos esforços a fim de promover diálogo com as diversas instituições, visando humanizar as estruturas voltadas às mulheres, inclusive as judiciárias. Por essa razão, nós advogadas temos um papel de extrema relevância para que tenhamos uma sociedade mais justa, igual e melhor de se conviver; por isso devemos continuar na luta para que as mulheres ocupem todos os espaços de poder, porque a democracia não se completa sem a participação real e efetiva das mulheres.
Patricia Maaze é a Moça Maravilha. Invulnerável, é especialista em combate corpo-a-corpo, capaz de voar e provida de força sobre-humana.
MA – Desde a gestão de Ronnie Duarte quando você foi a primeira mulher a ocupar a gestão da ouvidoria da OAB-PE até agora que você é vice-presidente da CAAPE, quais os percalços que você teve que enfrentar e como os enfrentou?
Patricia Maaze – Antes de ser ouvidora da OAB-PE, eu tinha passado pela diretoria da Comissão da Jovem Advocacia, a comissão de jovens advogados de Pernambuco. E dentro da Comissão, a gente começou a conhecer o sistema da OAB-PE como um todo. Na ouvidoria, depois que teve um grande destaque a minha nomeação sendo a primeira mulher ouvidora e com o aval de Ronnie, a gente conseguiu fazer um trabalho muito global dentro. E logo após também fui nomeada como conselheira da Seccional de Pernambuco. Isso me deu respaldo para também tratar dos assuntos da ouvidoria com mais propriedade. Com o trabalho realizado e depois que terminou a gestão de Ronnie, antes da eleição de Bruno, Fernando me fez um convite. Estava em São Paulo e Fernando me ligou para ser vice-presidente da Caixa. E quando ele me ligou perguntei se era por conta dos 30% que a OAB-PE já aplicava antes mesmo da regulamentação do Conselho Federal. Na mesma hora ele respondeu: “De jeito nenhum, estou lhe chamando para ficar do meu lado e a gente fazer uma gestão diferenciada na Caixa. Estou lhe chamando por conta de seus atributos, como advogada tributarista que você é, eu preciso desse viés mais técnico.”
Ingrid Zanella é a Mulher Maravilha. Dona de uma força descomunal, é mestre no manejo de armas como o laço da verdade, os braceletes indestrutíveis e sua tiara.
MA – Quais ações a OAB-PE tem tomado em relação aos jovens advogados?
Ingrid Zanella – No que tange aos jovens advogados, estamos com alguns programas, inclusive com a OAB-PE e a ESA-PE, o programa da residência jurídica, possibilitando que os jovens advogados possam ser inseridos em alguns escritórios, recebendo aulas específicas e mais pragmáticas de sustentação oral, honorários e podem depois desse programa serem ou não efetivados. Mas aí já parte para o universo jurídico com uma certa experiência. Nós temos também a Comissão do Jovem Advogado. Em 2020, realizamos em Pernambuco a Conferência Estadual dos Jovens Advogados, possibilitando cada vez mais que os jovens advogados identifiquem na OAB-PE um porto seguro. E a gente pensou em trabalhar isto antes, já que instituímos a possibilidade de os estudantes participarem de comissões como colaboradores acadêmicos, tendo cada vez mais acesso aos temas que são debatidos no cenário atual do Direito. Fora o piso salarial e as fiscalizações em escritórios. A OAB está atenta, possibilitando que o jovem advogado esteja mais inserido no mercado de trabalho.
Isabela Lessa é a Poderosa. Prima do Superman, é dona de força gigantesca, visão de calor e habilidade para voar.
MA – O que você falaria para as estudantes de direito sobre o mercado de trabalho e o relacionamento com potenciais clientes?
Isabella Lessa – Eu diria que hoje ainda tem espaço para o bom advogado. O que é que diferencia o bom profissional, aquele que efetivamente consegue manter um atendimento diferenciado aos clientes? É a atenção. É o cuidado. É tratar de maneira individualizada cada demanda, fazendo seu cliente se sentir especial. Essa humanização no tratamento do cliente faz muita diferença na advocacia. E é uma coisa que às vezes a gente se preocupa com a técnica e a gente esquece um pouco desse relacionamento, que é um relacionamento humano. É uma pessoa com uma fragilidade, uma necessidade que você tem conhecimento técnico-jurídico para ajudar. Então você precisa passar para essa pessoa segurança, que você vai fazer o seu melhor, que o problema dela está em boas mãos. Tenha cuidado com cada cliente para que ele se sinta seguro que ele escolheu a melhor pessoa. Isso que faz a diferença.
Ana Paula Canto de Lima é a Batgirl. Dotada de um intelecto de gênio, capacidades dedutivas avançadas, é rainha da tecnologia. Ficou conhecida, assim como a Mulher Maravilha, por ser um exemplo da luta feminina por igualdade e empoderamento.
MA – Quais são os direitos das mulheres no mundo digital?
Ana Paula Canto de Lima – Os direitos das mulheres não dependem de onde elas estão. Eles são universais. Entre eles, eu poderia citar os direitos à dignidade, à imagem e à honra. Então, independentemente da plataforma e do meio, eles devem ser respeitados, seja virtualmente ou fisicamente. Até porque não existem dois mundos paralelos, somos as mesmas pessoas, com os mesmos direitos e deveres e sujeitos às mesmas consequências legais, tanto na Internet quanto no nosso mundo físico.
Flavia Pessoa Guerra é a Zatanna. Melhor amiga do Batman, possui poderes mágicos como telepatia, telecinesia, manipulação elemental, controle de energia e projeção astral.
MA – Mulheres em posição de poder são exceções ou é um sinal de avanço no campo da igualdade?
Flavia Pessoa Guerra – Com certeza é um sinal de avanço. O empoderamento feminino está sendo muito discutido em todos os ramos da sociedade, seja na academia ou no mundo dos negócios e isso é uma crescente que não vai mudar. Hoje em dia as mulheres estão em destaque em várias situações. A OAB-PE é um símbolo desse empoderamento feminino. Antes, não muito tempo atrás, era um espaço eminentemente masculino e hoje as mulheres já conseguem frequentar. Com muito esforço e muita garra estão conseguindo conquistar seu espaço dentro da entidade.
Mirella Lacerda é a Mera. Esposa do Aquaman, é a rainha de Atlântida. Imortal, tem a habilidade de conversar com criaturas marinhas.
MA – Qual o papel da jovem advogada na atualidade?
Mirella Lacerda – Acredito que o nosso papel é vencer paradigmas, sejamos jovens advogadas ou as mais antigas, que é o meu caso. Temos que lutar cada vez mais, diária e bravamente, contra o machismo já instalado na advocacia e fazer com que as mulheres cresçam e tenham mais voz e respeito na nossa área. O protagonismo feminino já saiu das cozinhas, ele está no mercado de trabalho, não é e nem pode mais ser coadjuvante, a mulher precisa assumir o papel de protagonista da própria vida, sobretudo no lado profissional. Nosso papel é inspirar outras mulheres a desmistificar os padrões impostos pela sociedade, ter autoconfiança para fazer as próprias escolhas e impor respeito por isso. Os tempos mudaram e a advocacia não é mais profissão masculina, as mulheres tomam grande parte dos números e precisam assumir seus lugares e papéis no mundo jurídico. Avante, mulheres!
Graciele Lins é a Naomi. Adição mais recente no time da Liga da Justiça, ganha habilidades sobre-humanas usando uma armadura dourada.
MA – Qual a importância da mulher em cargos de relevante importância como os de: Conselheira-Federal, Vice-Presidente da OAB, Vice-Presidente da CAAPE, Vice-Presidente da ESA e Presidente de Comissões da OAB?
Graciele Lins – É de extrema importância o papel da advogada no Sistema OAB, sobremaneira em cargos de relevância e gestão. Nós, mulheres, já somos maioria em várias seccionais. Esse ano, conquistamos a paridade em números junto aos homens e precisamos colaborar para uma advocacia mais democrática, inclusiva, com a participação efetiva das mulheres nos espaços de poder e decisão. A representatividade das mulheres nos cargos de liderança é legítima e deve ser exercida com todo o destaque em todas as Seccionais brasileiras da OAB.