Por Ricardo Chacon | Foto: Bruno Castanha
A criação de um mundo que leva o nome de um ídolo do futebol pernambucano, Bita, e que teve inspiração no circo. Tudo isso aliado à criatividade de um design e músico, que conseguiu trazer da sua infância e do amor por suas filhas a sua grande inspiração. Através de traços, com influência circense, e de uma voz doce, Chaps Melo conseguiu dar vida a esse apresentador de circo bigodudo, que com usa cartola e apresenta temas importantes ao público infantil. O Mundo Bita nasceu em Recife, Pernambuco, nos estúdios da Mr. Plot, uma produtora de conteúdo fundada por Chaps e mais três amigos ― João Henrique Souza, Enio Porto e Felipe Almeida
Mais do que um personagem amado pelas crianças, o Mundo Bita tornou-se um dos “cases” de maior sucesso no mercado infantil dos últimos anos, colecionando indicações e prêmios. Depois de atingir a marca de 2 bilhões de views em seu canal do YouTube, em 2018, foi indicado para o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum Infantil Latino com o álbum “Bita e a Natureza” (2017). O álbum tem 12 composições e conta com participação de Milton Nascimento.
Filho de pai pernambucano, Chaps chegou ao Recife, aos 18 anos, vindo da sua cidade natal, Angra dos Reis, estado do Rio, pensando em cursar uma Faculdade. Logo, conseguiu um emprego numa gráfica, tirando xerox e depois foi promovido, como estagiário, a auxiliar um aluno que já cursava o último período de Design e mais tarde seria seu sócio.
Foram dez anos na mesma empresa, e, quando saíram resolveram criar a própria empresa. Chaps se juntara ao agora sócio, Felipe Almeida, com a idéia de criar apps e livros digitais voltados para tablets. Aproveitaram a empolgação da paternidade e apostaram no mercado infantil. No início, era o “Circo Mágico do Bita”, mas economicamente sentiram muita dificuldade. Foi quando Chaps teve a idéia de trazer para o projeto a sua experiência como músico. Passou a criar e gravar, de forma caseira, clipes musicais. Nascia o Mundo Bita.
O projeto de entretenimento infantil já lançou dezenas de singles e arrecadou diversas certificações de Ouro, Platina, Diamante e Diamante Duplo, com milhões de singles vendidos, que só foi possível depois primeiro sucesso, “Fazendinha”, e , em seguida, com as músicas “Fundo do Mar” e “Como é Verde Na Floresta”.
Os clipes de “’Bita e a Natureza” tiveram, em apenas um ano, mais de 150 milhões de visualizações no canal da animação no YouTube. Além disso, o projeto conta com mais de 3 bilhões de visualizações no canal em português e está presente em plataformas como Netflix, TV Brasil, Deezer e Spotify.
As melodias trazem uma sonoridade que acaba por conquistar também os adultos. E, vamos ser sinceros, tem horas que só o Bita salva!
.O QUE VC TRAZ DE INSPIRAÇÃO PARA O MUNDO BITA?
Eu trago muito da minha infância na construção do mundo bita, na construção do personagem e das historias. Tive uma infância bastante privilegiada pelo meu contato com a natureza. Sou filho de um pernambucano e uma cearence, que ainda jovens foram morar em Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro. E eu nasci lá.
Meu pai foi trabalhar na Usina Nuclear, de Angra, e eu lembro que a gente tinha um sitio, onde ele gostava de criar animais e cuidar da horta.
A minha mãe é musicista e toca piano até hoje, na igreja. Ela me fez ter um contato muito próximo também com a música. Tenho uma lembrança muito viva disso na minha cabeça. Angra é uma cidade que tem praia e montanha, então tive esse privilégio, desse contato grande com a natureza e com as brincadeiras de rua, daquela infância mais livre. Já na primeira temporada, essa influência aparece em “Bita e Os Animais” e depois em “Bita e As Brincadeiras. Depois, também em “Bita e A Natureza”, que foi indicada ao Grammy Latino, como melhor álbum infantil, e contou com a participação de Milton Nascimento, falando das estações do ano.
E COM RELAÇÃO A PATERNIDADE, ISSO TAMBÉM TE INFLUENCIOU?
A paternidade foi a força motriz da criação do Mundo Bita. Entender um pouco sobre a paternidade, entender o mundo das crianças sob a ótica da cabeça de um adulto, e já com todas essas referências da infância que eu tive, foi que fez com que o Mundo Bita pudesse existir. E isso tudo vai refletindo nos conteúdos, a partir das observações que a gente faz, enquanto pai, das nossas crianças, tudo isso contribui bastante para nossa criação. Tanto a minha infância quanto a minha paternidade, já que sou pai de duas filhotas, mesmo sendo energias diferentes, tem pesos equivalentes nessa construção.
O BITA TRAZ TODA UMA BAGAGEM MUSICAL MUITO FORTE, O QUE VOCE COSTUMAVA OUVIR?
Eu tive uma adolescência bem roqueira. Gostava muito de escutar rock internacional e também MPB, das mais antigas, anos 60, 70 e 80, como o disco “O Grande Circo Místico”, de Edu Lobo e Chico Buarque, que foi fundamental para ideia inicial do projeto. Todos esses “medalhões”, como o próprio Milton, Caetano, Gil fazem parte das nossas referencias musicais. E isso acabou refletindo na ideia da Radio Bita, com a participação de artistas como Roberto Carlos, Lulu Santos, Vanessa Da Mata, Ivete Sangalo, Alceu Valença, dentre outros.
CONTA UM POUCO DESSE CONTATO COM MILTON NASCIMENTO
O Milton vai através de um amigo, produtor cultural que produz algumas coisas do Bita e também de Milton. Mandamos um presente pro Milton, que gentilmente deixou ele tirar umas fotos com os presentes que enviamos. Só isso já tinha valido a criação do Bita por inteiro. Mas a gente é ousado e nos oferecemos pra que ele fizesse uma parceria pra gente. A gente comporia uma musica pensando nele e que ele pudesse gravar com a gente e virasse animação. Até que, depois de alguns meses, a gente soube que ele topou e nos encontramos pra gravar. Ficamos amigos e até hoje a gente se fala, vai nos aniversários na casa dele, nos shows. Ele também nos convidou para gravar uma musica dele “Bola de Meia, Bola de Gude”, que também virou clipe no Bita, e gravamos uma terceira com ele, que foi a musica da adoção, que era um tema bastante cobrado, pela responsabilidade social que temos. Chamamos ele, que é filho adotivo e também tem um filho adotivo. Foi muito bacana, nesse sentido.
E EM RELACAO AS REFERENCIAS VISUAIS, VI QUE VOCES TIVERAM UM ENCONTRO TAMBEM COM MAURICIO DE SOUSA, CRIADOR DA TURMA DA MONICA
Sim, sim, eu sou um leitor assíduo de Mauricio de Souza, sempre fui desde a minha infância. Continuo lendo e acompanhando as novas produções dele. Vi o filme da Turma da Monica, li o livro dele e fomos lá na Mauricio de Souza Produções. O pessoal gosta do Bita, o que pra gente é motivo de orgulho, pois é uma empresa que influencia muito a gente. Gostava muito de ler gibis, o universo da Marvel e da Dc Comics. Eu gostava muito das coisas da Disney também. Eu acho que bebi muito dessa fonte infantil dos anos 80, que foi quando eu vivi e são referências muito vivas pra mim.
O NOME BITA E MESMO UMA REFERENCIA AO IDOLO DO NAUTICO?
O nome Bita realmente tem a ver com o jogador, mas é muito mais uma homenagem a meu pai, que era muito alvirrubro, e eu herdei dele esse amor. E ai o nome Bita surgiu porque meu pai adorava muito esse jogador e ficava falando dele, nos almoços de domingo. Era um nome muito presente na minha cabeça e ai quando fomos batizar o personagem, queríamos um nome simples, com no máximo duas silabas, que fosse fácil de falar em outras línguas, e ai a galera gostou do nome e da facilidade das crianças falarem a palavra.