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Emília Queiroz: O Amor é para Hoje

Da Vocação Religiosa à Descoberta da Maternidade

Era uma manhã fria no Rio Grande do Sul quando Maria Emília Miranda de Oliveira Queiroz e Costa se viu diante de um balde d’água gelada. Ela também tinha uma lista de tarefas domésticas que nunca havia imaginado fazer. Aos 19 anos, havia trocado os livros de Direito por hábitos religiosos. Os corredores da universidade pelos silêncios de uma casa de formação. “Eu queria ser freira”, lembra hoje, mais de 25 anos depois, com um sorriso que carrega tanto nostalgia quanto gratitude. Mas o destino, como ela aprenderia repetidas vezes, tinha outros planos.

Já era professora de ensino fundamental formada. Então, foi cuidando de uma creche, cercada pela energia contagiante de crianças pequenas, que Emília ouviu um chamado diferente. Era um chamado mais alto. Mais claro. Mais visceral. “Eu me apaixonei pela dinâmica de cuidar das crianças e vi que queria uma criança minha”. Naquele momento, entre fraldas e brincadeiras, ela descobriu que sua verdadeira vocação não estava nos votos de celibato, mas na promessa sagrada da maternidade.

Uma Filosofia de Vida Forjada na Fé

A decisão de deixar o convento às vésperas da vestição não foi um abandono, mas uma mãetamorfose. Assim como uma borboleta que carrega consigo a memória do casulo, Emília trouxe dessa experiência mais do que uma formação humanista profunda e conhecimentos de alemão. Acima de tudo, trouxe uma filosofia de vida que se tornaria a espinha dorsal de tudo que faria depois: a filialidade dos heróis de Shoenstatt. O fundador, Pe. Joseph Kentenich, investia na educação e ética, tendo sido, por isso, vítima do nazismo na Alemanha.

“Na filialidade heróica: Ita Pater” – o lema de sua turma no convento, de onde foi eleita a primeira prefeita, ainda ecoa em sua voz quando o pronuncia. Em outras palavras, a coragem de se reconhecer pequeno diante do divino, de aceitar ser filho antes de querer ser pai. Era essa humildade que a levaria de volta ao Direito, de optar pelo casamento, e planejar amorosamente o nascimento de José Durval. O nome do filho carrega a homenagem ao Pe. Joseph Kentenich, tornando possível costurar o passado espiritual com o futuro maternal.

“A partir do momento que me tornei mãe, eu entendi qual era o sentido da minha vida”, diz Emília. Suas palavras carregam o peso de uma revelação. Dessa forma, José Durval não é apenas seu filho; é sua resposta diária à pergunta existencial que todos carregamos. É ele quem a faz levantar todas as manhãs, quem dá propósito aos dias mais difíceis.

O Luto, o Legado e a Lição do Agora

Mas o amor, como ela aprenderia da forma mais dolorosa possível, não pode esperar pelo amanhã.

A perda súbita de sua mãe, Fátima Oliveira, chegou como um soco no estômago da vida. Advogada como a filha, professora como a filha, Fátima não era apenas mãe – era espelho, mentora, companheira de jornada. Foi ela quem, em uma visita à filha no Sul, encomendou de uma freira artista plástica um ícone da Mãe Rainha de Schoenstatt. Em seguida, doou em uma ermida que ergueu no Parque da Jaqueira, em Recife, ao lado da Capela de onde era zeladora. Assim, se manteria interligada com sua filha mesmo enquanto estivesse no convento. Tornou-se um santuário que, para Queiroz, representa a transformação de dor em devoção e de luto em legado.

Logo depois da perda da mãe, perdeu também seu único e amadíssimo irmão, Edvaldo Filho, que como primogênito era seu protetor e maior incentivador. Também advogado, partiu muito cedo, mas deixou de herança para ela mais dois de seus amores: Maria Clara e Edvaldo Neto.

Daquelas perdas nasceram um lema que agora carrega como um talismã: “O amor é para hoje”. Não para ontem, que já se foi. Não para amanhã, que pode não vir. Para hoje. Para agora. Ou seja, para este exato momento em que ainda é possível abraçar, perdoar, dizer “eu te amo”.

A Advocacia como Instrumento de Pacificação

No mundo jurídico, Emília Queiroz encontrou uma forma de transformar e prevenir conflito em harmonia. Sua habilitação em mediação judicial e extrajudicial não é mera área de atuação. Pelo contrário, é extensão natural de quem acredita que “é através das negociações que se chega a uma pacificação”. Desde cedo aprendeu isso, seja quando servidora do Tribunal de Justiça de Pernambuco, no início da carreira, seja nas bancas de especialização e mestrado entre a Unicap e a Universidade Federal de Santa Catarina. Em um universo marcado pela intransigência, ela se posicionou como agente da autocomposição. Uma alquimista moderna que transforma brigas em acordos, raiva em entendimento e permite às partes escolherem a melhor solução, sem que se submetam à substituição de suas vontades pela de um terceiro que nem sempre tem sensibilidade para acolhê-las.

Tradição Familiar e um Escritório com Propósito

Emília Queiroz trouxe a tradição da advocacia de sua família e fundou seu próprio escritório. Ele conta com o legado de sua mãe, professora Fátima Oliveira, e com a presença viva e experiência do seu pai, Edvaldo Oliveira, advogado há mais de 50 anos e procurador judicial aposentado. Além disso, seguindo seus valores, é parceira de vida e de advocacia de seu marido, Raphael Costa, responsável pelas causas eleitorais e de Direito Público.

No Oliveira Queiroz Costa, Emília tem diferencial pelo acolhimento ao cliente através do estudo de alternativas que se adequem melhor aos seus casos e tornem o processo sustentável e menos desgastante possível. É assim que atua especialmente nas mediações que envolvem questões familiares, empresarias, societárias, imobiliárias e educacionais. Do mesmo modo, atua preventivamente em questões patrimoniais com ênfase familiar e de blindagem e planejamento sucessório e empresarial, além de processos judiciais cíveis em geral, com abrangência nas diversas instâncias e tribunais.

Liderança, Educação e o Futuro Humanizado do Direito

Emília Queiroz, dada sua formação e reconhecimento no mercado tem sido demandada para dar treinamentos e cursos em empresas e órgãos de classe sobre ética e compliance. Ademais, como professora e gestora educacional experiente, hoje é diretora de pós-graduação da Escola Superior da Advocacia, coordenadora de cursos avançados e professora em Recife e São Paulo. É presidente da Comissão de Educação Jurídica da OAB/PE e membro da Comissão Nacional de Educação Jurídica do Conselho Federal da OAB. Ainda assim, é mentora de jovens advogados que buscam posicionamento na carreira e acompanha a formação de carreira de José Durval, próximo causídico da família.

“O profissional do futuro é o profissional que tem duas características: inteligência emocional e afetividade, porque o domínio das máquinas sempre vai depender da afetividade humana”.

Ao falar sobre o futuro do Direito, ela não demonstra medo da tecnologia ou da inteligência artificial. Em vez disso, vê nelas uma oportunidade para que os advogados se reconectem com sua essência mais humana. Afinal, onde as máquinas processam dados, os humanos processam emoções. Onde os algoritmos encontram padrões, as pessoas encontram sentido.

Um Legado de Resiliência e Reinvenção

Desde a menina tímida que mordia o lábio para superar a vergonha no balé (técnica ensinada pela sábia mãe Fátima), até a mulher que hoje equilibra maternidade e carreira sem arrependimentos, Emília construiu uma trajetória sobre a fundação da resiliência e do autocuidado. Com efeito, cada escolha foi deliberada: das oportunidades que abraçou às que conscientemente deixou passar em nome do desenvolvimento familiar equilibrado.

Seu legado, espera ela, será a prova viva de que é possível se reinventar através do amor. De que o futuro não é um destino fixo, mas uma porta sempre aberta para quem tem coragem de atravessá-la, citando sempre Karl Popper: “o futuro está aberto”.

Hoje, aos quase 25 anos de carreira, Maria Emília Queiroz olha para trás e vê não uma linha reta, mas uma espiral ascendente. De fato, cada volta trouxe novos aprendizados, novas conexões, novas formas de servir. Seu escritório se reestruturou, diversificou, expandiu. Sua influência se estende por todo o Brasil. Sua vocação para ensinar encontrou novos canais, novos públicos e novas possibilidades.

E ainda assim, a essência permanece a mesma daquela jovem que um dia escolheu trocar os hábitos religiosos pela advocacia e a educação, sem jamais abandonar a fé. Que escolheu a maternidade sem jamais deixar de lado a profissão. Que escolheu a mediação porque acredita, profundamente, na capacidade humana de encontrar pontes onde outros veem abismos.

Porque, afinal, o amor – pelo trabalho, pela família, pelo próximo – é sempre para hoje.

Revista Paradigma Expressão Ed. IV pág. 38/41 – Agosto 2025.

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