Maria Carmen Chaves, doutora e mestra em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Professora universitária de Ciência Política, Metodologia da Pesquisa, Economia Política e Comunicação.
Colunistas Jurídico

A atenção ao Legislativo no processo eleitoral e o exercício cidadã(o) para manutenção democrática

Às vésperas do pleito eleitoral, a vivência deste momento tem sido intensa, fugir ao debate, mesmo que nos ambientes mais privados, não tem sido a realidade de boa parte da população. As eleições de 2022 estão presentes nos lares, nas ruas, nos ambientes de trabalho e de lazer, funcionando, inclusive, como vetor de discussões (poucas vezes saudáveis, outras inúmeras não) nas relações sociais.

A democracia assume a centralidade do debate que circunda a disputa do dia 02 de outubro. Sim, e no atual cenário é inquestionável que tragamos a democracia para o centro de tudo, afinal, é o que há de mais valioso numa sociedade política. Isto porque é justo da democracia que permeiam todos os direitos de liberdade, inclusive a liberdade de expressão e manifestação, as garantias à manutenção dos direitos civis, o direito ao sufrágio e o exercício do voto, o vigor da relações institucionais e seu pleno funcionamento, a atuação saudável e harmônica dos três poderes, a inclusão das minorias e dos mais vulneráveis na pautas políticas. E sob a defesa de todos esses pressupostos, que compõem o conceito de democracia, torna-se também a defesa de um efetivo Estado Democrático de Direito.

Contudo, há um ponto que parece não fazer parte do processo político eleitoral brasileiro, com a tamanha relevância que lhe cabe; sobretudo quando tratamos de democracia: a importância da disputa para o Legislativo. Não sendo um fato isolado deste pleito, a disputa para o Legislativo – seja no âmbito Federal ou das Unidades Federativas e Distrito Federal – como ocorre este ano, ou nos níveis municipais – parece não fazer parte das preocupações do(a)s eleitores e eleitoras

Inúmeras vezes observo que aprendemos a construir nossos argumentos democráticos focando essencialmente no Executivo. Talvez por sermos um país presidencialista, no qual uma única pessoa centraliza o papel de Chefe de Estado e Chefe de Governo, personificando em demasia a ideia de poder. Ou quem sabe porque em nossa construção cidadã há uma tratativa “secundária” aos parlamentares, relativizando ocasionalmente suas funções.

Para construir essa defesa, poderia citar John Locke a fim de evidenciar a tamanha relevância deste poder. Mas acredito ser suficiente ressaltar que na democracia brasileira, fundamentada numa República Presidencialista, não deve haver submissão ou prevalência entre os poderes; mas uma divisão de competências e de finalidades, assegurando a governabilidade democrática. E para tal, compete ao Legislativo oxigenar os demais poderes para que juntos possam promover a organização e o controle social tão essenciais ao Estado.

Nas Casas Legislativas nascem as leis que fundamentam as regras de convivência, as quais possibilitam a realização das políticas públicas implementadas pelo Executivo e o exercício legal e legítimo da justiça constituída no Judiciário. Não menos importante, é também no Legislativo onde se estabelece uma maior amplitude na representação, não sendo exercida apenas a democracia da maioria, mas possibilitando que muitas das vozes – esquecidas e invisibilizadas pela sociedade – existam no debate político. O Legislativo é o grande responsável por acolher às demandas sociais, prementes e diárias, atendendo aos interesses coletivos por meio da proteção democrática legal.

Estar atento(a) ao Legislativo e à escolha de seus/suas representantes é atuar para o exercício do Estado Democrático de Direito. É compreender que em sua composição estão concentradas as minhas vontades e a de cada brasileiro(a)s.

Sendo, portanto, urgente e emergente colocar o Legislativo no debate democrático, atribuindo a relevância que lhe é inerente. Então, que pratiquemos nossa cidadania, sendo responsável e vigilantes na hora de irmos às urnas escolher nosso(a)s legisladores, essas escolhas também constituem nossa democracia.  

Maria Carmen Chaves
Maria Carmen Chaves, doutora e mestra em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Professora universitária de Ciência Política, Metodologia da Pesquisa, Economia Política e Comunicação.

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